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quarta-feira, 22 de abril de 2009

Solipsismo

Para Maturana e Varela (2007), o solipsismo representa uma armadilha do conhecimento; "se negarmos a objetividade de um mundo cognoscível, [...] cairemos no caos da total arbitrariedade, pois assim tudo se torna possível" (p. 148). Este conceito “[...] nega o meio circundante e supõe que o sistema nervoso funciona totalmente no vazio, o que leva a concluir que tudo vale e tudo é possível. É o extremo da solidão cognitiva absoluta, ou solipsismo (da tradição filosófica clássica, que afirmava que só existe a interioridade de cada um). Trata-se de uma cilada, porque não permite explicar a adequação ou comensurabilidade entre o funcionamento do organismo e o de seu mundo" (p. 149/150). Os autores contrapoem este conceito ao de representacionismo, dizendo que "estes dois extremos - ou armadilhas - existiram desde as primeiras tentativas de compreender o fenômeno do conhecimento em suas raízes mais clássicas" (p. 150), propondo um "andar sobre uma linha mediana, sobre o próprio fio da navalha" (p. 149).

2 comentários:

  1. Adiante, Maturana e Varela (pág. 151 a 153) alegam que apesar de atualmente predominar o representacionismo, em outras épocas a visão do subjetivismo e do solipsismo eram dominante.
    Retomando a discussão da plasticidade estrutural do sistema nervoso, os autores defendem que a condição de ser, concomitantemente, determinante e determinado tornou possível ao homem desenvolver comportamentos instintivos (inatos) e aprendidos (natos), ainda que estes comportamentos sejam, de forma geral, indistinguíveis em sua natureza e realização, uma vez que a distinção apenas será possível na medida em que tivermos acesso à história das estruturas que a tornaram possíveis.

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  2. A despeito de qualquer convicção pessoal, considero cauteloso entendermos profundamente o significado de qualquer corrente de pensamento filosófico antes de lançarmos, sobre si, qualquer espécie de crítica (pejorativa ou não).

    Maturana não teve aí essa cautela - seguindo, pois, o posicionamento cômodo de limitar o Solipsismo à crença na inexistência da realidade em que o solipsista se encontra. Note-se que a percepção (a compreensão) de Maturana acerca do Solipsismo limita-se ao nível ontológico e - meramente - desagrada-lhe em sua modelagem espaço-temporal, nessa circunstância. Mercê do descrédito do solipsismo entre os filósofos, esse tende a ser um posicionamento bastante usual. Infelizmente.

    Contudo, ante a irrefutabilidade (epistemológica) da proposta solipsista, são as nossas modelagens espaço-temporais que devem se adaptar ao Solipsismo em lugar de nossas concepções ontológicas àquilo que se nos apresenta. Descartes já propunha isso... antes dele, Platão.

    O Solipsismo fora a proposta filosófica dos Vedas e sua interpretação metafísica, os Upanishads (melhor traduzida pela posterior Vedanta Advaíta - vide o Viveka Chudamani de Shankara); a interpretação quântica sustentada pelo nobel Eugene Wigner ("Consciousness Causes Collapse") e o arcabouço da filosofia de Fichte, um dos mais discutidos idealistas germânicos.

    Em sua profundidade, o Solipsismo propõe uma visão extendida de "Eu" (que se contrapõe à limitação do corpo)... a consciência solipsista, nesses termos, abraça a humanidade, a natureza... a realidade. O Eu solipsista é a existência em si. Resta ao homem perceber-se como tal...

    Um comentário de Arne Naes (citado por Fritjof Capra em "A Teia da Vida"): "O cuidado flui naturalmente se o 'Eu' é ampliado e aprofundado de modo que a proteção da Natureza livre seja sentida e concebida como proteção de nós mesmos. (...) Assim como não precisamos de nenhuma moralidade para nos fazer respirar (...) [da mesma forma] se o seu 'Eu', no sentido amplo dessa palavra, abraça um outro ser, você não precisa de advertências morais para demonstrar cuidado e afeição (...) você o faz por si mesmo, sem sentir nenhuma pressão moral para fazê-lo. (...) Se a realidade é como é experimentado pelo eu ecológico, nosso comportamento, de maneira natural e bela, segue normas de estrita ética ambientalista".

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