Do pressuposto da simplicidade para o pressuposto da complexidade
A ciência contemporânea reconhece que a simplificação obscurece as inter-relações existentes entre os fenômenos e que já não é mais possível isolar um fato para estudá-lo, ignorando suas relações complexas com o universo.
O quadro abaixo faz referência a transformação paradigmática da ciência.
Ciência Tradicional Ciência novo-paradigmática emergente
Simplicidade Complexidade
Análise relações causais lineares contextualização relações causais recursivas
Estabilidade Instabilidade
Determinação-previsibilidade Indeterminação – Imprevisibilidade
Reversibilidade-controlabilidade Irreversibilidade-Incontrolabilidade
Objetividade Intersubjetividade
Subjetividade entre parênteses Objetividade entre parênteses
Uni-verso multi-versa
Atualmente fala-se em complexidade, sistemas complexos, complexidade das organizações, da sociedade que nos remete ao risco de entender como mais um produto de consumo do século XXI, porém é conveniente referenciar que a complexidade não é nova, e sim o seu reconhecimento pela ciência.
O conhecimento científico tentava dissipar a complexidade dos fenômenos e assim determinar uma ordem simples que esses obedeceriam. Atlan (1984) observa que a simplificação da natureza levou a física aos seus próprios limites, fazendo com que ela admitisse a complexidade. Desta forma é reconhecido que a complexidade não é exclusividade dos fenômenos biológicos ou sociais, tornando-se um pressuposto epistemológico transdisciplinar.
Para pensar complexamente é necessário pensar e aceitar a contradição, confrontá-la e supera-la, sem negá-la e sem querer reduzi-la. Pascal já dizia que não se pode conhecer o todo sem conhecer detalhadamente as partes, mas também não se pode compreender as partes sem conhecer o todo. Isso requer, portanto, uma explicação circular, que articule as partes e o todo.
Assim a complexidade tão evidenciada hoje na produz por si só a inteligibilidade do universo, não fornece uma nova metodologia, mas nos desafia a desenvolver novas formas de pensar a agir.
Florianópolis, 30 de março de 2010.
Maria de Lourdes Prado
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