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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Reflexões sobre o ser social e a linguagem

É acalentadora a hipótese de que a linguagem da raça humana teve por origem provável a necessidade de o indivíduo manter a vinculação com seu grupo. Necessidade essa de origem afetiva, lembrando de que o ser humano tem em suas raízes o ser social, onde o individual se realiza dentro de um contexto comunitário. Parece que no âmago da essência humana, o altruísmo encontra-se como sendo a chave da auto-realização, já que o ser social encontra sua razão de ser ao contribuir para a perpetuação de sua espécie, como demonstra a observação dos alces (pg. 209-210 do livro). Não é, portanto, sem fundamento que todas as religiões pregam o amor ao próximo e o servir como o segredo para a felicidade. O ato de servir ao próximo traz ao homem o sentimento de estar sendo útil e, portanto, estar trazendo para uma dimensão de percepção mais concreta a razão de sua existência naquele grupo. Mesmo de forma distorcida, os heróis de guerra se realizam por estarem convencidos de que estão fazendo um bem ao “seu povo”. Há nesse contexto um quê de altruísmo: estar dando a própria vida em prol de um grupo. Maturana parece resgatar assim, a hipótese de que o altruísmo está gravado na carga filogenética da espécie humana. Teria sido então um meio hostil que desenvolveu a capacidade agressiva da espécie? Teria sido a disputa pelo espaço e pelo nutriente com outras espécies que tornou a espécie humana tão competitiva, a ponto de competir com os da própria espécie? Seria a agressividade uma ferramenta necessária para a sobrevivência em meio hostil, e que depois, perdeu-se o controle sobre ela?

Voltando à questão da linguagem, tendo ela surgido em um contexto para permitir a interação social entre indivíduos de um grupo, surge a hipótese de que sua estrutura biológica começou a iniciar as transformações para atender a essa necessidade: o sistema nervoso foi evoluindo ao passo que outros pontos da estrutura sofreram uma involução, como no caso dos dedos dos pés: uma vez que a espécie passou a não utilizar os pés para apreender objetos, nada mais coerente do que o atrofiamento dos artelhos, se comparados com os dos chimpanzés, por exemplo. Parece aqui de que o dito popular: “o que não se usa, enferruja” ilustra as modificações estruturais do ser. Ou seja, o sistema nervoso foi se tornando complexo à medida que, ao longo das gerações, os domínios lingüísticos foram se alargando. Parece que nesse processo um círculo virtuoso: à medida em que se alarga os horizontes do domínio lingüístico, mais complexo se torna o sistema nervoso, que por sua vez permite uma ampliação do domínio lingüístico, que por sua vez...Talvez esse círculo virtuoso leve um individuo a ampliar a percepção de mais realidades do que aquela a que está acostumado a perceber, e com isso, melhor compreender e aceitar o que lhe parece estranho e incompreensível.

MATURANA, H. R., VARELA, F. J. Domínios linguísticos e consciência humana, in: A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 6 ed. Editora Palas Athena. São Paulo, SP.2007.

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