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domingo, 30 de maio de 2010

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER (1812?-1833): UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIAL



Apresenta-se a conclusão do artigo de Maria Clara Lopes Saboya (Psicologia,USP) visando ampliar o entendimento deste enigma.

O caso de Kaspar Hauser serve para ilustrar o erro básico de uma organização social fundada sobre os princípios do racionalismo positivista.

Mostra-nos que a "humanização" do homem, entendida como socialização, não é uma decorrência biológica da espécie, mas conseqüência de um longo processo de aprendizado com o grupo social.

Através desse processo, o indivíduo se integra no grupo em que nasceu, assimilando o conjunto de hábitos e costumes característicos desse grupo. Participando da vida em sociedade, aprendendo suas normas, valores e costumes, o indivíduo está se socializando, reprimindo suas características instintivas e animais e desenvolvendo as sociais e culturais, fazendo, assim, a "passagem da natureza para a cultura," aprendendo a ver com os "óculos sociais," tornando-se, como nos disse C. Dickens, "um animal de costumes."

Kaspar Hauser nunca se transformou nesse animal de costumes; no máximo, poderia ser visto como "domesticado" pela sociedade da época.

Alguém como Kaspar Hauser que enxergava, mesmo na escuridão, e que ouvia os "gritos do silêncio" (coisas inconcebíveis para o homem "civilizado"), não poderia ser visto como "normal."

Mesmo tendo aprendido a andar, falar e escrever e apesar de haver internalizado símbolos de comportamentos, Kaspar Hauser nunca seria considerado um "igual" pela comunidade de Nuremberg, pois sua história de vida estava inevitavelmente marcada pelo estigma da rejeição.

Na lápide de Kaspar Hauser, no cemitério de Ansbach, na Alemanha, há uma inscrição que diz: "Hic occultus occultu uccisus est." Quer dizer: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido." Nada resume melhor o misterioso percurso da vida e morte deste homem.

Saboya, M. C. L. (2001). The Mystery of Kaspar Hauser (1812?-1833): A Psychosocial Approach. Psicologia USP, 12 (2), 105-116.

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-65642001000200007&script=sci_arttext

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