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domingo, 16 de maio de 2010

REFLEXÕES SOBRE CULTURA, LINGUAJEAR, VIVER HUMANO – FILME: KASPER HAUSER


A leitura de Maturana conjugada ao filme provoca uma série de reflexões acerca do viver humano. Contrariamente das meninas-lobo mencionadas pelo autor em “A Árvore do Conhecimento", o personagem Kasper Hauser conseguiu realizar o acoplamento estrutural com o viver humano, dentro do linguajear, mesmo tendo sido isolado do convívio com qualquer outro ser vivo . Parece ser quase impossível o progresso do personagem feito em apenas dois anos de contato com os humanos e sua cultura, porém, o viver de Kasper ilustra bem a questão da estrutura humana enquanto meio potencial para que um ser se torne humano por meio do acoplamento cultural permitido pela estrutura. Ainda, ao final, o filme demonstra que seu cérebro apresentava uma anormalidade, podendo sugerir dois caminhos: a anormalidade como causa de uma inteligência privilegiada, ou como consequência de um estímulo repentino e acelerado a partir do contato de Kasper com a cultura humana. Qualquer que seja a resposta, o papel do cérebro é apontado como sendo primordial para que Kasper tenha acedido ao linguajear e ao reflexionar, e com isso, ter elaborado pensamentos recursivos de crescente complexidade à medida em que seu reflexionar se torna mais intenso, coincidindo com Maturana quanto esse aspecto. O filme mostra também dois personagens que ilustram o acolher, o legitimar da existência de Kasper, em contraposição às pessoas que o confinaram em uma cela escura e sem contato com o mundo, demonstrando a ausência do amar em relações da sociedade onde passa a trama. Um deles é o educador, que reconhece o potencial de Kasper e se propõe a ajudá-lo a desenvolvê-lo. O outro papel de cunho afetivo é o da mãe das crianças no início do filme, que também opera na dimensão do amar: ela não vê em Kasper uma ameaça ao seu bebê, mas entrega-lhe a criança em seus braços, de forma que Kasper experiencia a confiança. E supõe-se que tenha sido o acolher desses dois personagens e de suas famílias o que permitiu a Kasper a adentrar o mundo do linguajear e a aprender a experimentar o emocionear. Uma passagem muito interessante é o questionamento do professor acerca da pergunta da aldeia de pessoas mentirosos e de pessoas que só falam a verdade. Diante da resposta pertinente de Kasper, o professor encarna o tipo do homo amans arrogans que se julga portador da única resposta verdadeira possível. A cena em si evoca a reação das pessoas cultas diante das respostas simples e óbvias encontradas pelos simples de coração. É um filme para reflexão, que se torna mais compreensível a partir do conhecimento da visão de Maturana.


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