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quinta-feira, 20 de maio de 2010

RESUMO: CONVERSAR DOLOROSO POR XIMENA YAÑEZ


A autora coloca que uma vez que o passado e o futuro não existem em si mesmo, a dor do passado é na realidade uma dor do presente. Assim, o conversar liberador decorre com o mostrar, por parte do sofredor, de onde ele se acha no presente de seu existir na matriz biológico-cultural de seu viver. O sofredor pede ajuda a partir do momento em que se conscientiza de que seu viver psíquico, físico e corporal é um viver que não mais quer viver, e o pedir ajuda não é “tanto um convite a ajudar, mas antes um convite a encontrar-se no amar”. Com a constatação de que toda dor e sofrimento da alma são decorrentes do desamar que se vive, faz-se mister entender que a autodepreciação somente se cura com a restituição do amar negado no fluir dos sentires do viver. A dor e o sofrimento são provenientes da cultura. O desamar é manifestado no não ver, escutar e principalmente, ao não legitimar a existência do outro.

Como surge a dor e o sofrimento numa cultura?

Eles surgem por meio de conversações centradas no medo, na desconfiança, no controle, na dominação e na subjugação cotidiana – típicos elementos da cultura patriarcal-matriarcal vigente.
Para buscar o Conversar Liberador, a autora propõe antes o Conversar Doloroso, fazendo uma reflexão das condutas relacionais que levam à dor e ao sofrimento (mal estar) e à não-dor e ao não-sofrimento (bem estar).

Condutas relacionais que resultam em bem-estar

O amar: considera o alguém como legítimo outro na convivência; solta o desapego, espontâneo, surge sem esforço, unidirecional, não pede nada em troca;
A ternura: um acolhe o outro no domínio do amar: sem expectativas ou exigências, sem querer mudar o outro, acolhe, acalenta, acaricia.
A sensualidade: amplia a sensorialidade que acolhe o outro na ternura. Desencadeia o Homo sapiens amans amans: "seres amorosos que nasce na confiança de ser acolhido com ternura na proximidade e toral aceitação corporal com outra ou outro".

Condutas relacionais que geram mal estar

A agressão: considera-se somente o que se nega como legítimo na convivência com o outro. Gera um viver e um conviver na luta, na confrontação e no mau humor.
A inveja: despreza-se o que tem e se ressente do que não se tem. Diferente do ad-mirar (mirar o outro porque me surpreende de forma positiva), a inveja torna-nos doente do corpo e da alma, fruto de autodepreciação e insegurança.
A vaidade: exibe-se o que tem, com desprezo pelo outro, desde a emoção da arrogância. Torna-nos doentes de corpo e alma ao não encontrarmos autonomia reflexiva e de ação.
A superficialidade: apreciar as aparências em detrimento do conteúdo ( daquilo que o constitui), é o sucesso e o ganhar a qualquer custo, de acordo com o que se é demandado socialmente (cultural).
A hipocrisia: é o negar o outro, na aparência de acolhê-lo,é uma mentira na emoção, não se vive na espontaneidade da honestidade, e pode-se cair na armadilha do viver na mentira na emoção como um modo de viver quase natural, decorrendo a perda de dignidade no respeito por si mesmo.
A certeza: não se dispõe a reflexionar sobre os fundamentos do que o outro diz ou faz, cai-se na tentação da homogeneização. Não escuta e não legitima o outro quando o viver não coincide com o seu viver.

MATURANA ROMESÍN, H; DAVILA YANEZ, X., Matriz biológico-cultural da existência humana e conversar liberador. In: Habitar humano em seis ensaios de biologia-cultural, São Paulo, Palas-Athena, 2009, p. 223-230.

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