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sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Àrvore do Conhecimento Capítulo 9

A ÁRVORE DO CONHECIMENTO
- MATURANA, R. Humberto. VARELA, J. Francisco. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana. 6ª. ed. Tradução Humberto Marioti e Lia Diskin. São Paulo: Palas Athena, 2001.
Capítulo 9 – Domínios Lingüísticos e Consciência Humana
1. Descrições Semânticas
A descrição semântica do observador não é em si a coordenação comportamental; esta decorre do acoplamento estrutural dos participantes.
Isso implica em que cada elemento comportamental acaba recebendo uma palavra que permite relacionar essas condutas à linguagem humana.
“Toda vez que um observador descreve os comportamentos de interação de organismos como se o significado que ele acredita que essas condutas têm para os participantes determinassem o curso de tais interações, ele faz uma descrição em termos semânticos.” (p. 231)

2. Domínio Lingüístico
Segundo os autores “domínio lingüístico” seria o “âmbito de todos os seus comportamentos lingüísticos [do observador]”, ao passo que a “lingüística” é “uma conduta comunicativa ontogênica, ou seja, uma um comportamento que ocorre num acoplamento estrutural ontogênico entre organismos, e que pode ser descrito em termos semânticos por um observador.”

3. Linguagem
A linguagem seria uma maneira de operar na qual os objetos de distinções lingüísticas entre dois organismos possuem os mesmos elementos de domínio lingüístico.
A linguagem possibilita a reflexão e a consciência, assim como permite “a quem funciona nela, descrever a si mesmo e à sua circunstância.” (grifado no original)
A linguagem seria a “trofolaxe” dos humanos. (trofolaxe: interação química ocorrente nos insetos que proporciona a coesão da unidade social)
Com a linguagem não há limites para o que é possível descrever, imaginar, relacionar.
Concluem asseverando que a evolução dos hominídeos que tornou “possível o aparecimento da linguagem, têm a ver com sua história de animais sociais, de relações interpessoais afetivas e estreitas, associadas à coleta e à partilha de alimentos.” (p. 240) (original sem grifo)
A “trofolaxe” lingüística assume um caráter cultural ao “permitir que cada indivíduo ‘leve’ o grupo consigo, sem necessidade de interações físicas contínuas.”.
Acrescentam os autores que os primeiros hominídeos “compartilhavam alimentos e cooperavam na criação dos filhotes. Isso ocorria no domínio das estreitas coordenações comportamentais aprendidas (lingüísticas) que acontecem na incessante cooperação de uma família extensa. Esse modo de vida de constante cooperação e coordenação comportamental aprendida teria constituído o âmbito lingüístico.” (p. 243)

4. A Mente e a Consciência
Importante destacar:
“Vimos que um ser vivo se conserva como unidade [mesmo] sob as contínuas perturbações do meio e as de seu próprio funcionamento. Depois vimos que o sistema nervoso gera uma dinâmica comportamental ao produzir relações de atividades neuronal interna em sua clausura operacional. O sistema vivo, em todos os níveis, organiza-se de maneira a gerar regularidades internas.” (p. 254/255)
Isso também ocorre no “domínio do acoplamento social”, só que “a coerência e a estabilização da sociedade como unidade se produzirá mediante os mecanismos tornados possíveis pelo funcionamento lingüístico e sua ampliação na linguagem.” (original sem grifo)
“Essa nova dimensão de coerência operacional é o que experimentamos como consciência e como nossa ‘mente’”. (p. 255)
“Dessa maneira, o aparecimento da linguagem no homem, e também no contexto social em que ela surge, gera o fenômeno inédito – até onde sabemos – do mental e da autoconsciência como a experiência mais íntima do ser humano.” (p. 256)
“[...] a consciência e o mental pertencem ao domínio de acoplamento social” (não é algo que está dentro do crânio).

5. Considerações Finais
“A linguagem não foi inventada por um indivíduo sozinho na apreensão de um mundo externo. Portanto, ela não pode ser usada como ferramenta para revelação deste mundo. Ao contrário, é dentro da própria linguagem que o ato de conhecer, na coordenação comportamental que é a linguagem, faz surgir um mundo.”
“Percebemo-nos num mútuo acoplamento lingüístico, não porque a linguagem nos permita dizer o que somos, mas porque somos na linguagem, num contínuo ser nos mundos lingüísticos e semânticos que geramos com os outros.” (p. 257) (original sem grifo)

Bibliografia de Apoio
MATURANA ROMESÍN, Humberto. Cognição, ciência e vida cotidiana. Organização e tradução Cristina Magro e Vitor Paredes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001.
Na obra acima indicada Maturana volta a discorrer sobre a linguagem, de uma forma ainda mais incisiva:
“Em outras palavras, afirmo que a linguagem acontece quando duas ou mais pessoas em interações recorrentes operam através de suas interações numa rede de coordenações cruzadas, recursivas, consensuais de coordenações consensuais de ações, e que tudo o que nós seres humanos fazemos, fazemos em nossa operação em tal rede como diferentes maneiras de nela funcionar.” (p. 130)
“Ou seja, afirmo que nós, seres humanos, existimos como tais na linguagem, e tudo o que fazemos como seres humanos fazemos como diferentes maneiras de funcionar na linguagem.”
“Além disso, afirmo também que a linguagem , como um fenômeno biológico, em sua origem filogenética e em sua constituição ontogenética, é uma operação num domínio de coordenações consensuais de coordenações consensuais de ações que surgiu como um resultado da coexistência íntima em coordenações de ações na linhagem dos primatas bípedes à qual pertencemos, e que tem que ser estabilizada novamente em cada criança durante sua co-ontogenia com os adultos com os quais ele ou ela cresce.” (p. 131) (original sem grifo)

Para concluir:
“O resultado desta condição de constituição da linguagem é que nós, seres humanos, existimos como observadores na linguagem, e quaisquer distinções que façamos são operações na linguagem, em conformidade com circunstâncias que surgiram em nós na linguagem.”

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